"No chains around my feet but I'm not free
I know I am bound here in captivity
Now, where is this love to be found?"
(B. Marley)
Recriá-lo fera na ferida de mim. De suas garras, vergões, arranha-céus arranhados na alma. Vim parar no oposto ponto de um estranho movimento de libertação da armadilha de lembrá-lo e recriá-lo. Dou um nó e resvalo no reverso masculino arquetipicamente animal e eternamente humano em mim. A neblina do inverno de agora é pura lembrança fria de ter vivido tão perto estando tão longe. Contudo, sob a óptica da sábia engenhosidade de aprender a ser homem, ele, e eu de aprender a ser mulher, somos um só. Então, distância não serve de medida para nossos corações. Sentimento sedento e ainda tão farto. Oras a escassez das savanas, oras a abundância das matas densas. Cada qual em sua natureza, pertencentes à trivialidade da espécie e ao mesmo tempo extintos em nossa forma de amar. Espelho que somos, ainda vivemos na imaginação um do outro. As patas felinas, o andar pacato e certeiro, os olhos selvagens e toda a nossa linguagem de urros e absurdos a desferir a solidão côncava-convexa dos amantes que não somos. Encaixe tão pouco encaixe senão fluidez de almas que não temos. Um sonho sem vida é um amor que não se torna. Torna-se o quê, se nem ser ele é? Se o fosse, o complemento seria fácil. E eu não precisaria inventar predicados prestando contas à convenção das palavras. Sentido nenhum quando falar de amor é trabalhar hipóteses. Um amor que se tornaria o quê, se existisse? O quê nos tornaríamos se o sentíssemos e nos amássemos? Refugiada na caverna do concreto, procuro esquecer o complemento do verbo e buscar o complemento de mim. Tentei substituí-lo por outro, mas não fui longe e caí na mesma encruzilhada. O que fazer com tanta investigação se o sujeito eu não posso trocar? A farejar uma resposta, sigo o rastro da passada dele onde meu passado se perdeu e eu não posso seguir sendo. Tornam-se, volto. É isso. Creio sem razão humana que o fato de tornarem-se me basta. Ele que só pode existir através de minha condução. Logo, morreremos juntos no decair de minha confiança e certeza. Sem lamúrias, lamentos ou tristeza, mas para a paz definitiva dos verbos sem complemento, dos sentimentos sedentos, das rotas tantas a cada giro dessa roda. Ao menos não me enganam mais as pegadas de tantas estradas trilhadas. E de olhos fechados também "escuto o que toco no silêncio de tudo."
terça-feira, 13 de novembro de 2007
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