Não há prisão
Nem compaixão
Nem dó, amor,
Nem piedade,
Nem perdão
Preciso matá-lo
em meu coração
num golpe sótiro certo
sem delongas
sem demoras
sem oras
nem bolas
Preciso apagá-lo
de meus sonhos
num clarão
explosão cega
sem tropeço
sem soluço
sem pecado
nem aflição
Preciso tirá-lo
de minha vida
num arremesso
ao precipício
sem corda
sem escada
sem choro
nem vela
Preciso arrancá-lo
do solo do peito
com facão
com enxada
destreza
e sem parada
Preciso quebrá-lo
ao chão
depois soprá-lo
em pó de grãos
sem norte
sem ponte
sem sorte
nem horizonte
Preciso perdê-lo
na estrada da vida
num labirinto
sem saída
sem pegada
sem poeira
nem migalha
Preciso negá-lo em mim
morte, rapto
sumiço, estilhaço
Para vê-lo renascer
vivo, lúcido, presente
forte, íntegro, consciente
Assim, repetidamente
irei amá-lo
em eterna construção
destruição, ilusão,
desilusão...
Um amor espiralado
tão humano
tão imperfeito
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