Rebeldia, Caeiro querido, que nada
Faço da poesia minha mísera valia
Mal dos versos
Cambaleio em embalo
de balaio solto e torto
Irregular que sou
nada entendo
que seja certo
que seja reto
Tenho sede dos olhos da terra
Da alma do Universo
Do corpo do mundo
Se nada posso ser
E o Amor me faz sofrer
Junto a trouxa
(eu mesma) trouxa frouxa
e vou tirar da Morte
a Vida que me resta
esgota
gota a gota
dessa meta
Arca perdida, minh'alma
Nau naufragada
Nuvem enluarada
Vasculho entulhos
de sonhos e barulhos
A lança enfiada na garganta
As mãos atadas
A Morte-dança
A Vida canta
Do viéis dos olhos de meu algoz
o soslaio da voz
sussurro um arrepio
meu último suspiro:
amor, estou viva!!!
Arrasto o rastro de farrapos
Vou ao rio aos frangalhos
E contemplo o reflexo do rosto roto
Rugas e verrugas
Velha minh'alma,
casa de barro
cachoeira de rama
enxurrada de lama
Vulcânico leito
onde me deito
descanso, desfaço
e refaço o passo
pegada a pegada
pedaço a pedaço
cada traço
desta trajetória
incerta.
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