Trata-se de um detalhe da lenda de Percival e do Rei Pescador. Lembramos a misteriosa doenca que paralisou o velho rei, detentor do segredo do Graal. Alias, ele nao era o unico que sofria; tudo em torno de si desabava, desmoronava: o palacio, as torres, os jardins, os animais nao mais se reproduziam, as arvores nao davam mais frutos, as fontes secavam. Inumeros medicos tinham tentado tratar o Rei Pescador _ sem o menor resultado. Dia e noite chegavam os cavaleiros, e todos comecavam por perguntar as novidades sobre a saude do Rei. Um unico cavaleiro _ pobre e desconhecido, ate um pouco ridiculo _ permitiu-se ignorar o cerimonial e a cortesia. Seu nome era Percival. Sem levar em conta o cerimonial da corte, ele se dirige diretamente ao Rei e, aproximando-se dele, sem nenhum preambulo, pergunta-lhe: "Onde esta o Graal?" No mesmo momento, tudo se transforma: o Rei levanta-se do seu leito de sofrimento, os rios e as fontes recomecam a jorrar, a vegetacao renasce, o castelo se restaura milagrosamente. As poucas palavras de Percival tinham sido suficientes para regenerar toda a Natureza. Mas estas poucas palavras constituiam a questao central, o unico problema que podia interessar nao so ao Rei Pescador, mas tambem ao Cosmos inteiro: onde se achava o real por excelencia, o sagrado, o Centro da vida e a fonte da imortalidade? Onde se encontrava o Santo Graal? Ninguem havia pensado, antes de Percival, em formular esta pergunta central _ e o mundo morria por causa dessa indiferenca metafisica e religiosa, por causa dessa falta de imaginacao e ausencia de desejo do real.
(Mircea Eliade, em Imagens e Simbolos, 1952)
PS: Sinceras desculpas pela ausencia de acentuacao!
Nenhum comentário:
Postar um comentário