terça-feira, 2 de setembro de 2008

O pescador de ilusoes


"De Deus, tudo aquilo que nao se pode ver."

(Los Hermas)


Ressoa de uma flauta o acorde a brincar com meus cabelos. A leveza audivel de que necessito para ser forte. Momentos alargados de rara expansao e preguica, em que o centro me suspende a morada das estrelas. Olhar no vazio. Enlevo de percorrer a superficie do mundo sem pertencer a ele. Planeta oval de dimensoes contidas em outras dimensoes, maravilhas infindas, desconhecidas. Hoje, eu sei da arte de entender os ciclos das horas nuas, em que se morre sem morrer. Minhas maos nao me deixam mentir a experiencia de tantas vezes tecer as tramas do novelo de meus proprios ciclos. Fios emaranhados, embrenhados aos nos cosmicos de outros inicios e outros fins. Transito periodico de questoes. Onde eh que vai dar? A vida nao tracada de minha tranca, nao sei, mas ao vento danca. Caricia sem o esboco das direcoes mundanas, meu cabelo brinca e esvoaca sem o norte de qualquer pensamento. Olhos lancados ao horizonte onde eh permitida a singela ignorancia libertar-se: nao sera o redondo deste fim, o limite de tudo? Se alem eu fosse, talvez nao me afogasse, de nenhum penhasco eu caisse. Talvez, para alem do mundo de meus olhos e do tato humano de sensibilidade tao singularmente limitada, eu por fim voasse. Como musica ou crianca, voltar a ser um, eu seria.