quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ex-act-à-mente


" O que me tranquiliza

é que tudo o que existe,

existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete

não transborda nenhuma fração de milímetro

além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.

Pena é que a maior parte do que existe

com essa exatidão

nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós

como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,

a perfeição."


Clarice Lispector

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O homem de bem


Criterioso que é, o homem de bem escolhe cuidadosamente o dardo agudo que irá desferir o alvo. A complexa rede de leituras livres lhe provê uma teia de significados possíveis, oras a capturar a presa, oras a emaranhá-lo na própria tecitura de seus fios. Textura áspera de um tecido de palavras ríspidas disfarçadas à delicadeza e polidez de seus gestos habituais. Veste-se com o texto lírico, meticulosamente poético-artístico, e camufla-se como quem se defende ou ataca. Segue com o olhar covarde de quem rasteja trincheiras de significados ameaçadores à paz de sua guerra consigo mesmo. Segue até onde não pode ver-se refletido desnudado da verbal camuflagem. Translúcido, despido. Utiliza-se o homem de bem de seu fiel instrumento de guerrilha, o estilete da língua, para com total destreza modelar à conveniência de suas intenções de vitória o sentido tal e qual das coisas do mundo. Espelho de sua real ignorância, não vê ele a reflexão perplexa e difusa contida na multiplicidade de ângulos que evadem à sua limitada percepção. Contraditoriamente, excita-o a atividade de pensamento que lhe condena ao sistema prostrado de declarar batalhas sem fim contra si mesmo. Vício intransigente seu o de cumprir a obrigação das conveniências. Ilusão de conforto, mais cedo ou mais tarde, a revolução das águas vem lhe estourar o casulo onde se resguardara. Afinal, a quê bel-prazer ele escraviza a expressão do que sente e compreende à restrita exploração de sentenças prontas? Sem gozo de vida, mesmo que fale belo, é beleza roubada do floreio alheio. Segue ele, assim, entrincheirado por entre corredores sem saída de subterfúgios educados a lhe sabotarem a sinceridade do reconhecimento de si mesmo. Falsa modéstia como alimento de seu ego, logo, os labirintos das trincheiras se erguem num castelo imponente de pretensa humildade. Reconhecer-se torna-se a grande muralha que mais lhe delata a fraqueza de não saber ser grande do que a fortaleza de pequeno. Cumprimentos tantos, os de seus modos requintados de ciência e sofisticada desenvoltura nos tratos, que vêm tornar seu castelo mais impenetrável ainda à ação de descobrir-se. Sedução de narciso, esse homem além de bem é belo. Um forte a mais a bloquear a consciência do pobre! Refugiado em seu próprio universo de significação, ele decodifica o mundo. O homem de bem funda um verdadeiro reino de opiniões e argumentos cheios de certeza e verdade. Detentor sagaz da habilidade de postar-se em um centro louvável de conhecimento de si mesmo e do mundo, ele se torna senhor da subjetiva arte de conferir sentidos e valores a tudo o que lhe rodeia. Não demora muito e o homem de bem vira rei. Indecentemente condescendente às dimensões de verdade que ele mesmo carrega como coroa a lhe pesar sobre a testa. O peso, o volume, a densidade, o comprimento, a altura, a forma, a profundidade, a cor, a temperatura; a hora lírica, a demora dramática, a letargia lúdica, a poesia onírica... em suas milhares investigações sobre as coisas, em seus lúcidos e lunáticos estados provocados pelas mais mirabolantes descobertas, o homem de bem morre segundo após segundo sem ter a pompa verbal que lhe veste a morrer consigo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Embalo de um dia triste (21/06/07)


Um dia de olhos inchados.

Chateada à mania bizarra dos homens, nós, serem e sermos tão estúpidos. O mínimo de sensibilidade nos falta e os poucos que se importam são ainda piores, pois crêem estar fazendo grande coisa. Certas as meninas no balanço que riem à socapa apostando quem atira o sapato mais longe. Entusiasmadas em seu vai-e-vem, elas desfrutam o dia mais longo do ano como se fosse o mais curto. Nem elas, nem eu queremos voltar para casa antes da noite cair. Queremos o sabor das estrelas esvaído em silêncio noturno e a tranquilidade preciosa de não mais palpitar questões sem resposta. Quem se importa? É vai-e-vem de balanço que traz de novo a pergunta ao vai-e-vem do peito. Levanto-me e me despeço num asceno à distância. As meninas seguem chacoalhando gargalhadas. Eu tenho os olhos ainda a denunciar minha natural ignorância de importar-me.

O zazen das não-horas


Tirei a pilha do relógio como quem altera a dimensão espacial do quarto.

O corpo pede o mesmo à mente para que ele possa se expandir e descontrair-se.

Seguimos um tanto inertes à compreensão de nossa biologia intuitiva. Dela mal conhecemos a linguagem própria.

Não a descobrimos porque não sentimos e quando sentimos não entendemos.

Na contorção de vieses e reveses, eu me proponho a prática sistematicamente intuitiva da leitura das sensações. Do pé das letras faço mãos de palavras e, logo, tenho um organismo de idéias. Intransferíveis à materialidade das horas, não operaciono meus pensamentos em conceitos ou feitos. Elevo-os antes de trazê-los ao concreto do corpo. Traços intangíveis de uma percepção irremediavelmente parcial.

Tanta arte e ciência, assim, reduzidas a iminência de sentir o que não se pode alcançar.

Substancialmente sem alcance, nos resta é criar.

Before being born to another cycle of discovery and understanding life


Ganesha

for you I pray now,

without the pretension of knowing

what is the best for me

in this new period of my life,

without anxieties about

what is to come

and released from the bounds

of projections or any expectations,

I beg you to carry my life on your back

and open the doors of perception,

knowledge and understanding


All I need to have wide open

to make the universal goodness true

here and now


I trust my body, my mind, my heart

and my soul

to the purifying action of your trunk


Please, with your strength and wisdom

help me to guide my own energy

towards the best of myself

Please, allow me to be in the right place,

at the right moment


Once watched and protected by your blessed presence

I will feel confident and courageous enough

to face and go through any adversities

that may come up against my way


Under the light of your eyes

I want to learn how to distinguish

the best choices for me and for all,

which will lead me to the full empowerment

of my skills and abilities


No reservations neither fear

shall prevent me from striving for perfection,

the one shown by you


Please open this pathway

for me to acquire the tools needed

to enrich my experience of learning

through love

how to become a tuned instrument

in this life


Only you, holy elephant, Ganesha

can orient my steps along

such eternal and yet temporary journey

Be by my side now

because only under your guidance

I will be able to carry out the mission

which brought me to this precise moment

ready to begin.


Perde o sabor de ser um bom aluno quem deixa de ser iniciante sempre


Iniciados na ciência da espiritualidade

aprendemos a amar, desprendidos

das teias dos pensamentos,

podemos nos elevar

e ascencioados às forças cósmicas,

potencializamos a nossa luz


Iluminados, leves, maleáveis,

e conectados às frequências

das mais íntimas intenções,

vibramos o amor

profunda paz nos inunda,

pois através dele

descobrimos

quem verdadeira-mente

somos.