terça-feira, 24 de junho de 2008

Mente na Lua vivente


Disfarce conveniente seu. Descorre o vendedor ambulante sobre o eterno retorno dos ciclos de criacao e destruicao dos mundos. O rei Indra e eu o acompanhamos atentos. Despertamos juntos de nossa ignorancia e vaidade. O longo periodo de dessacralizacao do real sentido da vida se rompe. Sei do bombardeio sonoro e o ouco na buzina de tantos veiculos. Sei da difamacao da sensibilidade humana em diversos graus de deturpacao da realidade. Estranhamento do espelho translucido a refletir a identidade original nossa. A introjecao dos sistemas sociais em minha corrente sanguinea. Seus modelos de comportamento, seus codigos moralizantes, suas hipocrisias. A artilharia pesada dos meios de massificacao das ideias que ao me abaterem sobremaneira, surpreendentemente, revigoram o impeto de desferir a flecha-chave de minha libertacao. Quedo consciente e voluntariamente ao poco obscuro de meu arcabouco mitico a fim de traze-lo 'a luz . Voz da mae geradora de toda a criacao, prostro-me ao ouvir o seu sussurro penetrante sob a forma de silencio que tudo petrifica para tudo remodelar. Unidos pela morte de tantas vidas, pela acao da estarrecedora intuicao cosmica, reacende em mim a revelacao da imortalidade. Assim, vejo lado a lado projetados em minha mente os milhares de fragmentos de minha condicao existencial. A obediencia historica, que sorrateiramente rouba e extirpa a genuina dimensao da vida, eh finalmente subtraida 'a retencao do ar em meus pulmoes. Nome, identidade, personalidade e a mascara da geografia corporal com todos os seus artificios sao estilhacados diante do espelho de meu ser integral. O reverso da fantasia que so a imaginacao reaviva. O avesso da loucura que faz temer um homem sao. O contraponto desafiador do chamado para uma definitiva reconciliacao com o ser unico sobrevivente. Nada mais posso ser. Desgarrada das amarras do tempo, escorro para alem do circulo atmosferico onde e somente onde me reencontro dentro do mundo. Olhos precipitados da ignorancia desvairada de nossos tempos, julgam-me alucinada. Mente na lua vivente. Convite para que me cale, ainda que eu nao possa parar. Motricidade cosmologica minha, cuja carne nao passa da maquiagem palida de meus ossos.

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